DANIEL MARIN
Ninguém é uma ilha cerceado em si próprio, somos fruto de uma intrincada cadeia de interações.
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Textos
Os três sóis
A brisa zunia no meu ouvido. E eu deleitava-me naquele verdadeiro paraíso terrestre, intocado pelo homem, onde as gaivotas revoavam em um cintilar de emoção e a natureza pujante, dava o seu ar artístico da graça. Tudo parecia perfeito, composto como se fosse uma linda obra de arte ao natural. Estava Eu, imbuído completamente nesta excitante e inspiradora realidade. Entretanto ao descerrar os olhos e acordar para a realidade vivencial, dei-me em conta que era apenas um delírio ou seria um sonho lindo. Não podia mensurar a situação naquele fatídico momento. E ao abrir os olhos defrontei-me com a luz escaldante de três poderosos sóis num céu imenso amarelo ouro. Aquelas luzes dos três astros imponentes, preenchiam todos os espaços visíveis e o tom amarelado aurífero dava a tonalidade do ambiente. Eu estava deitado e ao remexer-me para levantar, percebi tardiamente que o “solo” era uma substância pegajosa e gelatinosa, algo totalmente estranho e caracteristicamente surreal, não podia naquele exato momento definir o que se tratava a composição. Mesmo assim ignorei a situação e pus-me em pé, tentando me equilibrar, já que parecia estar sendo sorvido aos poucos por aquele solo estranho. Sem saber onde estava, olhei vivamente ao redor, a fim de explorar o ambiente estranho.
As minhas memórias estavam abaladas, não lembrava meu nome e ignorava a existência de familiares, muito menos sabia o motivo de estar naquele local inóspito e improvável. Porém eu tinha em mente algumas noções de tempo e espaço, bem como podia muito embora não de forma clarificadora e objetiva, descrever o ambiente. Parecia que minhas pobres e incompletas memórias haviam sido propositalmente alteradas, mas como se deu este fato. Eu ignorava totalmente. Perguntava-me a todo o momento, onde estava, e procurava mesmo imóvel sobre o terreno, decifrar aquele ambiente desconhecido e deveras assustador.
E os três sóis soberanos no céu amarelado, estavam perfeitamente alinhados. Foi o que identifiquei ao olhar novamente para o horizonte. A tonalidade amarela confundia muito a minha visão, e mal podia distinguir na linha do horizonte entre o solo e o céu. Parecia estar envolto numa bolha, flutuando no nada absoluto. Após alguns instantes, não lembro de forma exata o quanto, fiquei parado tentando avaliar a situação, mesmo que precariamente, dada as circunstâncias que se apresentavam.
Fiquei imóvel por alguns instantes, intuindo avaliar a situação, a sua forma como se apresentava. Minha mente era uma confusão completa, memória iam e vinham ao esmo. Sentia apenas o balançar da substância estanha, da qual era composto o misterioso solo. Mirei para o horizonte, e aquele amarelo irritante calejava minha visão. Estava perdido e desorientado, os três sóis lá no alto da cúpula, eram a única e vaga certeza que tinha. Entretanto eu não deixava o pânico tomar conta, respirava fundo e indagava com alguma razoabilidade. Seria apenas um pesadelo? Mas o medo rapidamente invadia meus perdidos pensamentos. E tornava a me questionar. Não seria esta a realidade?
Foi então que decidi prosseguir, e equilibrando-me a cada passo, ia tentando caminhar na superfície incógnita do local, marcada pela gelatinosa composição, era quase impossível progredir a passos largos e ágeis. Decidi então avançar gradativamente e de forma mais lenta.  E assim meio que esgueirando-me fui adiante, em busca do nada. A tonalidade amarelada do ambiente confundia a vista, mas não impossibilitava a locomoção. Restava apenas seguir, não importa para onde, mas o simples fato de eu estar em movimento, já era um certo alento para o coração apreensivo.
Os três sóis alinhados acima dos meus olhos desafiavam a minha lógica terrena. Enquanto andava refletia sobre entre outras coisas a respeito deste misterioso fenômeno. As memórias remoíam no meu interior, desconexas eram como flashs incessantes.
Um mundo novo que se abria ante meus olhos, onde estaria eu, pobre ser? Perdido entre os multiversos? Ou preso na minha própria mente? Não sabia o que era ficção, sonho ou realidade. Havia talvez ter sido abduzido por forças estranhas e além da minha humilde compreensão? Eram perguntas, apenas desconexas e soltas ao esmo. As respostas que minha mente audaz tanto ansiava, talvez nem estivesse ali; naquele mundo estranho e desprovido de razão. Questionava-me a todo o momento. O pavor ante o desconhecido e a total ignorância perante a situação, davam a tônica do momento. Restava apenas seguir adiante, tentar extrair alguma lógica daquele mundo surreal para mim, composto de uma atmosfera assemelhada a da Terra, de superfície maleável, porém aparentemente impenetrável, desprovido de vegetação, tonicamente amarelado e com três sóis alinhados na cúpula. Sobretudo era naturalmente perspicaz, tentar entender o que se passava com o meu eu interior e como absorveria o novo e desafiador panorama que se apresentava.
Daniel Marin RS
Enviado por Daniel Marin RS em 19/06/2018
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