Tema: Cultura, Sociedade e Política

Uma cultura massificada e cada vez mais homogênea; denominada Cultura-Mundo, tem o poder de pacificar às democracias, acalmar o povo e reorganizar nossas experiências. Porém o seu contraponto é o de desorganizar toda a nossa estratificação social, às consciências e os modos de vida. Denota-se que o mundo atual, está deveras desorientado, a sociedade padece sintomaticamente, desorientada, insegura e desestabilizada. É sim, um fato novo, e coloca-se como crônico no âmbito de toda a população global, que sente direta ou indiretamente as consequências.
É evidente que nas sociedades passadas, as que precederam à atual, podemos assim colocar, também haviam medos e pavores. Porém todas às inseguranças sentidas, tinham um alento afável, na religião, no panteão de deuses, num corpo social estruturado, onde cada indivíduo conhecia o seu lugar, e praticamente não pairavam nas mentes dúvidas quanto à ordem estabelecida. Havia um alento para o sentimento inseguro, pois sabia-se e tinham fé no futuro, no destino.
Na atual era, onde temos um grande número de democracias que bem ou mal regem os destinos políticos nas nações do globo. Acabou por não cessarem às tragédias políticas, porém no próprio bojo da sociedade emergiam alternativas, carregadas de promessas de um futuro melhor e mais justo, dando assim segurança de que trilhava-se um caminho promissor e progressista. Já não temos mais essas certezas. Às democracias modernas, não têm mais inimigos internos e externos capazes de solapá-las, o bloco comunista e totalitarista ruiu e restam apenas resquícios fossilizados que não tem nenhum poder de influência. Mas estamos em um mar de perdição se uma explicação lógica, vivemos numa errância generalizada. Em um mundo em que o inevitável bate a nossa porta, como; o liberalismo econômico, às liberdades de mercado, a dissolução das barreiras políticas que outrora delimitavam nossa vida, ganham corpo de forma acelerada, ficamos meio que desamparados diante destes acontecimentos. Nós, indivíduos da sociedade atual, jamais tivemos tanta liberdade de expressão, tanto acesso à informação de forma quantitativa, facilitada e ágil. Em um mundo onde o conhecimento flui rapidamente nas redes de computadores que interligam todo o mundo, derrubando todas as barreiras do passado; mas que dentro de toda esta frenética conjuntura nosso sentimento parece tão impotente e frágil, confuso e incerto. A estruturação em que a sociedade sempre se apoiou, está abalada e em consequência disto, sentimo-nos receosos quanto ao amanhã. A ansiedade individual, tende a aumentar consideravelmente.
Com a derrocada dos grandes sistemas ideológicos-políticos, na qual formavam o conflito Ocidente – Oriente, e a globalização, formaram seguramente um dos fatores primordiais desta desorientação. A cultura-mundo, justamente inicia-se de uma forma mais aguda com o final da guerra-fria e o liberalismo econômico de patamares globais.
Pairam em nossas mentes, questões carregadas de incertezas. As gerações futuras viverão melhor que nós? O que esperar do amanhã? Há evidentemente um temor de que o amanhã reserve eventos piores. Uma névoa espessa, solapou o cenário ideal e estruturado que tinha-se, às certezas dogmáticas das ideologias foram soterradas. É um campo fértil para o aumento do desencanto e a incerteza nestes tempos da cultura global.


(Fonte: A Cultura – Mundo: G. Lipovetsky & J. Serroy)