A Arte e a Sedução da Beleza
O caminho sublime até o belo necessariamente não se dá por um terceiro, mas por meio de si próprio, pois nem sempre o objeto de contemplação tem o impacto maior. Vale a máxima aqui exposta em que a beleza não reside no objeto admirado, mas sim no olhar e no sentimento do admirador.
Contudo o que se diz então a respeito da beleza espalhada por todo o mundo em imagens, obras de arte e até mesmo rostos vivos, corpos e iconografias? E igualmente das obras da natureza? Do toque sublime divino? Do mero acaso? Bom! Pelo menos do ponto de vista do artista é possível traçar algumas linhas válidas. Já que do meio natural fica muito mais complexo achar a raiz ontológica da coisa. Se é que há uma causa para tudo isso? Seria a habilidade do artista um dom transcendental? Um dom que perpassa a simples via da razão humana e não tem uma explicação? Um caso apriorístico fatal! Algo de incognoscível? E quanto à beleza “natural” de rostos e corpos de pessoas?
O certo é que o conceito de beleza varia com o tempo. E não necessariamente o que foi considerado belo no passado é igualmente belo aos olhos das pessoas na contemporaneidade, o presente. Contudo há uma raiz ontológica que conecta o objeto “belo” à razão e instinto humano. Em arte tanto quanto em beleza, o autor e o expectador, são ao mesmo tempo o sedutor e o seduzido. É um processo mental que envolve sentimentalidade e racionalidade, cingidos no juízo de valor da pessoa una. Já que quando nos vem à mente a palavra “ARTE”, imediatamente nos conectamos com sentimentos de beleza, deleite e fantasia.
A arte reside na inspiração do artista que imagina, projeta e executa o trabalho. A arte é desenvolvida através de uma habilidade do artista como artesão, com a mão, pela ferramenta, pelo pensamento e materializada por meio da techne (técnica).
Há dentro deste arcabouço três elementos em jogo no que tange à obra de arte e suas implicações com a sedução. Portanto o primeiro ponto é a sedução e inspiração; segundo as formas, a realidade transcendental juntamente com a representação artística; e em terceiro a especificidade da arte em si, negando uma perspectiva universal e levando em conta a intuição do artista primária. Já que a habilidade do artista se desdobra e faz sentido no nível terreno, isto é, no campo da prática. Contudo é preciso ir buscar a inspiração do artista numa área mais abstrata e mais metafísica, onde a techne age como um princípio ontológico.
Pondo desta forma, façamos um breve exercício mental. Comparamos dois troncos de madeira nobre. Em que um não tenha sido trabalhado e não carrega nenhuma marca humana, permanecendo incólume seu estado natural. Ao ponto que o segundo tronco foi transformado pela mão humana de um artista que domina a techne do entalhe, por exemplo, e o transformou numa estátua feminina votiva. O que fica clarificado é que o que trouxe a beleza e a sedução, não foi o estado natural do tronco de madeira, uma vez que o outro também seria belo e emanaria sedução. Mas a causa, o motivo de admiração, contemplação, sedução e exalação de beleza, devem-se ao fato da forma com que a arte por meio do executor introduziu naquele tronco bruto.
A forma emerge e é possível devido à techne do artista ou artesão aplicada. Então a arte é o veículo do belo do sedutor, que foi transmitido por meio do tronco de madeira aqui exemplificado e transformado pela mão humana num processo artesanal único.
A beleza permanece intacta na arte, ambas não se afastam permanecem imóveis em si, numa completude significante.
A título de conclusão temos então o seguinte aspecto, a beleza no seu estado puro não reside no tronco bruto de madeira (exemplo), ela (beleza) vem à tona na medida em que é submetida à arte, circunscrita na intervenção humana.