Obstáculos na formação do espírito científico
A primeira experiência caracteriza-se como um obstáculo para a formação de uma mente inclinada ao espírito científico. O eminente filósofo da ciência francês Gaston Bachelard define que, “o primeiro obstáculo é a experiência primeira, a experiência colocada antes e acima da crítica – crítica esta que é, necessariamente, elemento integrante do espírito científico.”
Ao nos atermos e tomarmos por verdade absoluta, apenas às impressões de cunho puramente empírico e de natureza superficiais, estamos desprezando a verdadeira essência das coisas que formam tudo. Nega-se intelectualmente, e bitola-se a possibilidade de experiências mais aprofundadas em um determinado assunto. Tolhem-se às salutares possibilidades de questionamentos, dúvidas e análises que venham colocar em xeque as “verdades absolutas”, pertinentes às teorias gerais das áreas da ciência, ou fenômeno em questão. Assim sendo, as doutrinas primordiais e leis referentes a fenômenos da natureza de caráter complexo, que se apresentam como fáceis, geram uma acomodação mental e provocam a inanição dos saberes mais intrincados e abstratos, que são aproximativos da verdade sobre um determinado fenômeno. Somos tomados por um espírito cômodo e ajustado, pertinente a uma referida teoria, tida como verdadeira e inquestionável; embasada na superficialidade da aproximação primeira, com o objeto de estudo do saber científico. E as aceitações de uma teoria sem o questionamento e a crítica constituem um dos obstáculos da evolução do espírito científico. Pois, somente mediante a crítica, dúvida e questionamento das verdades absolutas tangentes a leis e teorias dos mais diversos fenômenos, por exemplo, é que há uma refinação e considerável evolução no modo de pensar e fazer ciência.
Portanto é importante destacar que a dúvida, o desconforto intelectual e a alta criticidade são ferramentas primordiais para formar um pensamento científico, e assim alavancar o desenvolvimento de uma nação ou sociedade. Às implicações futuras são difíceis de quantificar, mas com certeza terá frutos frondosos e fecundos.
Os obstáculos da formação do espírito científico são estritamente pertinentes e a nossa condição de eternos aprendizes e agentes formadores continuados da ciência contemporânea. Obstáculos estes que concernem às falsas doutrinas e generalizações desnecessárias, verbalizações carregadas de adjetivos, o polimorfismo que se constitui em ter intuições mentais muito dispersas e do conhecimento quantitativo sem ratificação sobre a sua validade e/ou verdade.
Afirmarmos nesta textificação com total sensatez e veracidade que se a ciência progride a passadas largas, pode inclusive soar como uma leviandade. Conforme podemos concluir neste relato, inúmeros e capciosos obstáculos se colocam entre nós e o “verdadeiro” conhecimento científico. As maiores barreiras e impedimentos são produto do nosso próprio intelecto, ao não atentarmos para os detalhes e particularidades de um objeto. Prendemos-nos as primeiras e imprecisas impressões observáveis sem falsear a realidade posta e muitas vezes imposta.
A formação do espírito científico é constante e ciclada, isto porque está impelida a sempre aprender com os seus próprios erros e refutações. Como em um processo que não encontra o fim! O certo que é uma propriedade natural da sua essência. E é nos erros e refutações, na dilaceração do conhecimento anteriormente edificado, e que, por meio de um esforço intelectual conjunto, não representa mais a verdade de um fato. É onde a ciência se move e de certa forma progride, pode-se dizer enfim.
Contudo sempre fica uma capciosa pergunta no ar!
A ciência verdadeiramente progride?